“Pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo…” repetia
sem parar as indicações que lhe tinham sido dadas. Era a primeira vez que
tentava a sua sorte e, para começo de conversa, não se estava a sair nada mal.
O seu novo brinquedo era cor-de-rosa. Mas não era um cor-de-rosa
qualquer pois o seu pedido tinha sido bem especifico, “Quero aquele cor-de-rosa
do vestido da Barbie Sereia”, era aliás o seu brinquedo preferido e de referência
para tudo o resto: tão bonito quanto a Barbie Sereia, tão diferente quanto a
Barbie Sereia, cabelos tão bonitos quanto os da Barbie Sereia… Este era, agora,
o seu termo de referência.
Não foi fácil mas o pai lá conseguiu falar com o Sr. António
da loja de bicicletas e, por especial favor, arranjou um exemplar “todo quitado”.
A mãe estava encantada com o cestinho à frente:
- Já viste Matilde, podes por aqui os teus bonecos e
levá-los a passear… Ou podes pôr aqui o lanche quando fores andar de bicicleta
para o jardim… Ou podes…
- Ou posso tentar aprender a andar de bicicleta… Oh mãe, eu
não consigo… É muito difícil!
A última bicicleta que teve, era daquelas com rodinhas mas
ela achava que já estava muito crescida para usar esse apoio… Mas, agora,
faltava-lhe essa segurança e tinha receio de cair, de se magoar ou, pior,
desiludir o pai que estava tão entusiasmado com a prenda que lhe tinha dado.
De capacete na mão o pai chegou ao pé da Matilde e
disse-lhe:
- Lindona, vamos para o jardim estrear a bicicleta nova?
- Oh pai… se calhar ainda estou a fazer a digestão e pode
fazer-me mal.
- Não faz nada mal… Vem, vamos dar uma volta….
- Oh pai, sabes, doi-me aqui este dedo (espetando o dedo
imaculado mesmo em frente ao nariz do pai para que não restassem dúvidas).
- Matilde… Tu estás com medo?, perguntou o pai sentando-se
na beira da cama.
De cabeça baixa a pequena Matilde apenas acenou afirmativamente
com a cabeça.
- Mas porquê filhota? O pai está lá contigo… Eu prometo não
largar a bicicleta enquanto não te sentires segura. Mas, sabes, se não tentares
nunca vais conseguir andar. E ainda há outra coisa: cair faz parte da
aprendizagem. E, se por acaso caires, o pai promete arranjar uns pensos cor-de-rosa
para condizer com a bicicleta e a Barbie Sereia… Que achas?
Mais convencida, Matilde levantou-se repentinamente e pegou
na mão do pai em direcção à porta. A possibilidade de ter um penso cor de rosa,
onde quer que fosse, valia bem o esforço...
Pelo caminho o pai deu as instruções necessárias para que
tudo corresse bem:
- O capacete não é para sair da cabeça. Usa o travão com
cuidado porque se travares de repente podes cair. Só podemos andar aqui no
passeio. E mais importante: Não pares de pedalar. Pé direito, pé esquerdo, pé
direito, pé esquerdo…
- Pé direito, pé esquerdo… Oh pai, eu confundo sempre qual é
o esquerdo e qual é o direito.
O pai não conteve o riso e disse-lhe que o que interessava
era que alternasse os pés a pedalar e o assunto ficou esclarecido.
- Pai, disse Matilde, mas tu não me largas, pois não? Tu
prometeste.
- Matilde, o pai vai estar sempre ao pé de ti. Eu prometo. Vá,
agora… FORÇA! Pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo…
- … Pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo… - ia
repetindo em voz alta.
Veloz e passo certo, Matilde, estava a andar de bicicleta.
Contente com o seu feito e de sorriso rasgado olhou pelo canto do olho e
percebeu que o pai tinha ficado para trás… Já há algum tempo… Matilde aprendera
a andar de bicicleta e sem a ajuda das rodinhas.
**Nota da Autora: Às vezes as palavras dos pais são as nossas melhores rodinhas...
Que Matilde corajosa! Lindo! Beijinhos!
ResponderEliminar...minha querida "eu também já fiquei para trás" porque tu já sabes andar sozinha...mas se por acso tiveres medo ou caires eu vou a correr para te consolar e, se for caso disso, por um "penso" da cor que tu quiseres.........
ResponderEliminarQuanto à história da Matilde, adorei! mesmo!
Beijos
Menina!!!!
ResponderEliminarPassa lá no meu blog!
Presentinhos para ti!
Já fui ver... Vou responder :)
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