(Já tinha postado esta história no Facebook mas aqui fica o registo para a posteridade)
Quando escureceu ela sentou-se à mesa e esperou a sua chegada. Colocou os pratos do serviço e fez o seu jantar favorito. Aperaltou-se e esperou. “Chego ao anoitecer. Espera por mim”, foi o bilhete que ele havia deixado... Há 11 anos atrás. Esta era a sua rotina diária, esperar por ele... E perceber que nunca mais chegaria ao anoitecer.
Ela nunca chegou a perceber se ele se tinha fartado, se tinha encontrado outra pessoa ou se, pura e simplesmente, se tinha desligado dela e da vida que partilhavam, como se faz com um interruptor. Por não perceber, nunca o aceitou.
Os anos passaram, ela envelheceu mas o seu coração continuava preso a um amor que todos diziam estar perdido. Por não perceber, por não aceitar, ela nunca o deu como perdido.
Numa quarta feira do mês de Maio, o dia escureceu e ela seguiu o seu ritual... Sempre com a mesma calma... Sempre com a mesma esperança... Nesse dia bateram à porta quando o relógio bateu as sete da tarde. O seu coração parou. Toda ela tremia mas ainda assim, e num primeiro impulso, correu para a porta. Ao abrir deparou-se com um homem de cabelo grisalho e um ar gasto mas, ainda assim, com um certo charme.
- Ainda te lembras de mim?, perguntou ele com uma voz trémula.
Ela abraçou-o e disse-lhe ao ouvido:
- Chegaste mesmo a horas, fiz o teu prato favorito.
Pegou na sua mão e, com muito cuidado, sentou-o à mesa, no mesmo lugar de sempre. Não trocaram uma palavra mas nunca desviaram o olhar um do outro durante todo o jantar.
Encontraram-na sozinha na sua casa na quinta-feira de manhã. Dizem que tinha um ar tranquilo e um sorriso de felicidade. “O coração não resistiu”, disse o médico, “talvez tenha sido melhor assim...”.
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