- Mãe, como nascem as estrelas?
Matilde sempre fora uma menina muito curiosa e sedenta de saber. Tudo o que via à sua volta era motivo suficiente para longas horas de conversa. Embora pequenina já tinha opinião sobre muita coisa e gostava de defender as suas ideias até à exaustão. Mas, o mais curioso, é que quando não sabia alguma coisa não inventava e não hesitava em perguntar ao adulto mais próximo o "quando", o "onde" e o "porquê". Neste dia tinha calhado à mãe.
Por entre tachos e panelas e a preparação do jantar, a mãe conseguiu tirar um tempinho para tentar explicar como nasciam as estrelas (assunto que, obviamente, não dominava).
- Ó mãe, as estrelas também choram quando nascem? E saem da barriga da mãe? Usam fraldas? E chucha? Como é chucha delas?
- Calma, calma Matilde. As estrelas não são como nós. Não nascem como nós. Não crescem como nós e, sabes uma coisa ainda mais engraçada? É que as estrelas que estás a ver agora no céu já são velhiiiiinhas... Já nasceram hà muito tempo.
- Como a avó??? Disse a Matilde com a sobrancelha levantada e olhar duvidoso na direcção da mãe.
- Sim. Senta-te aqui.
A pequena menina pegou no seu banquinho que usava para ajudar a mãe na cozinha e sentou-se muito quieta a ouvir o que a mãe tinha para lhe contar:
- Sabes Matilde, a Terra é um pequeno planeta no meio do Universo. Estás a perceber?
Matilde acenou com a cabeça dando aprovação que a mãe continuasse a contar a história que havia começado.
- Entre os diferentes planetas existe muito espaço livre e é nesse espaço que existem muitos gases e poeiras que se vão atraindo ficando cada vez mais próximos até serem uma massa só. Só que a energia entre eles é tal que fica tão quente, mas tão quente, que "explode". - A mãe da Matilde falava muito com as mãos e gesticulava muito, de maneira que, quando simula a explosão a Matilde dá um salto do banco quase caindo ao chão.
- Ó mãe, que susto!!! Olha, então o pai e a mãe das estrelas são essas coisas com nomes esquisitos que disseste?
- Sim, é mais ou menos isso... - Disse a mãe conformada que a sua explicação, tão pouco cientifica, estava a cair em saco roto. O que a Matilde queria mesmo era saber as fofocas de como tudo acontecia.... Mas viu perfeitamente que dali nada sairia. De nariz arrebitado, como era seu costume, levantou-se e disse:
- Sabes mãe, estou com fome, é melhor acabares o jantar.... Eu vou fazer um desenho para o meu quarto está bem?
E pé ante pé foi ter com a avó que dormitava no sofá da sala embalada pelo som altissimo do televisor. A avó Clementina tinha-se sentado em cima do comando e nem tinha dado por isso... Tentando controlar o riso lá conseguiu que ela acordasse e se apercebesse do sucedido. Após umas boas gargalhadas em conjunto, a pequena Matilde ganhou coragem e perguntou à avó:
- Vó Tina, tu.... tu sabes como nascem as estrelas? É que eu acho que a mãe me está a esconder alguma coisa... Só me fala em gases e poeiras o que eu acho muito estranho... É que uma estrela, que é uma coisa tão bonita, não pode vir de coisas tão feias.... É impossível, avó!
Vendo o ar desconsolado da sua neta e sabendo do gosto que tinha em histórias mirabolantes a avó tomou fôlego e disse-lhe:
- As estrelas nascem, realmente, como a tua mãe te contou mas... isso é como nascem as estrelas "normais". Há, no entanto, outras estrelas muito mais brilhantes que têm uma origem bem mais poderosa. São estrelas que nascem de um grande amor. São as estrelas que são o resultado de dois seres que se atraem e que se juntam para fazer algo maior que eles próprios, resistente a tudo e a todos e que brilhará mais quanto maior for o seu amor. A essas estrelas dá-se o nome de filhos, dá-se o nome de sobrinhos e dá-se o doce nome de netos. Tu és a minha estrela, pequena Matilde e eu vi-te nascer... Desde esse dia que a minha vida ficou tão mais luminosa, meu amor...
Com os olhos húmidos e cheios de ternura, Matilde agarrou-se ao pescoço da avó e disse:
- Avó, para mim, tu és a estrela mais cintilante de todo o Universo!